Livros de poesia com desconto

Livros de poesia com desconto

Passe pela Ler Devagar, na Lx-Factory, e aproveite a campanha especial de livros de poesia.

Descontos de 10% a 30%. 

Numa das mesas temáticas pode encontrar Pessoa, Eugénio de Andrade, Almada Negreiros, Lhansol, Ruy Belo, Gastão Cruz, Manuel António Pina e Rui Costa. As mais recentes edições de Adília Lopes, Daniel Faria e José Tolentino Mendonça marcam também presença entre os poetas mais consagrados, assim como as vozes de Tagore, Masaoka Shiki, Yosa Buson e Matsuo Bashô.

Venha à Ler Devagar, sente-se e leia um livro – não cobramos o tempo.

 

Relembramos o nosso horário: todos dos dias da semana até às 22h, de quinta-feira a sábado até às 24h.

Pietro Proserpio — O Amor pela Arte Cinética

Pietro Proserpio — O Amor pela Arte Cinética

A conversa descontraída foi no próprio local de sua exposição. Pietro Prosérpio, criador de várias peças presentes na livraria Ler Devagar, na LxFactory, contou um pouco sobre como começou a sua paixão pelos brinquedos e, também, sobre temas que são frequentes em suas peças, como o tempo. 
Texto e fotografias: Clarisse Verdade 

 

Brinquedos:
da infância para vida toda 

Dono há 10 anos de uma exposição de brinquedos com movimento na Ler Devagar, na LxFactory, Pietro Proserpio ficou conhecido como Gepeto, o pai do Pinóquio. Vivenciou desde bombas a cair perto de sua casa quando ainda morava em Itália a frustrações numa antiga Lisboa sem gelados de pau Olá. Teve quatro netos, que não seguiram a sua paixão pelos brinquedos, e o seu sonho hoje é o futuro de sua exposição.

Nasceu em 1939, ano em que a Segunda Guerra Mundial se iniciava, em Calolziocorte, uma aldeia perto de Milão. Pietro Proserpio, aos sete anos, da vista da fábrica de tecido em que seu pai trabalhava, ainda conseguia ver as bombas a serem atiradas contra uma ponte que, pelo que conta, era importante para os alemães ou para os ingleses, não se recorda. Depois da guerra acabar, mesmo em meio a lembranças ruins, contou uma história que o faz rir até hoje, a andar em sua bicicleta próximo a esses buracos, uma vez caiu com a roda da frente dentro de um, “ploft”.

Ainda em Itália, sua paixão pelos brinquedos já se tornava evidente. Construía os seus próprios com peças de madeira encaixáveis e passava horas a brincar no pátio da fábrica, porém, ainda sem lhes dar movimentos.
Em 1949, quando tinha onze anos, veio morar para Lisboa, pois o seu pai passou a gerir uma fábrica de tecidos em Benfica. Ao chegar, deparou-se com situações que o deixaram indignado, como o facto de ainda não terem chegado cá os gelados de pau, Olá, e que para ir ao cinema, tinha de usar terno e gravata, o que fez com que fosse impedido de entrar algumas vezes nas salas.

Nas praias também não era como em Itália, tinha de se usar peitilho, uma camisola para homens e miúdos, mas a maioria recusava-se a vestir, então, quando se aproximava o cabo do mar, que era um fiscal que andava pela praia, ouvia-se de longe “cabo do mar, cabo do mar, cabo do mar” e todos vestiam a camisola.

No Liceu Francês, escola em que seus pais o colocaram para estudar e onde aprendeu português e francês, conheceu sua esposa. Eles moravam na mesma rua e todos os dias apanhavam juntos o autocarro para a escola e foi assim que o amor entre eles floresceu. Casaram-se anos depois e logo tiveram duas filhas, que lhes deram quatro netos. Criaram uma “família fabulosa”. Porém nenhum deles seguiu sua paixão pelos brinquedos.
A paixão prevaleceu e ganhou vida

Com a escola finalizada, seguiu os passos do pai na fábrica têxtil, mas no fundo sabia que o seu amor não era pelos fios e sim pela mecânica, por isso nunca a deixou de lado. Os brinquedos de início eram criados para diversão própria e para dos seus amigos, depois para as suas filhas e de seguida para seus netos. Quando todos já estavam crescidos, voltou a criá-los para si.

Suas peças, entretanto, começaram a ganhar vida. Depois de uma viagem, em que conseguiu fazer um movimento utilizando um pequeno motor, passou a repeti-lo e melhorá-lo em outros brinquedos. Para este movimento, começou a reutilizar motores de carrinhos telecomandados e de peças de computadores, por exemplo, tornando a reciclagem uma parte fundamental de suas criações. As histórias por detrás das peças também começaram a surgir.

Essa paixão fez com que, em 2009 aceitasse o convite de Michel, expositor residente da Ler Devagar, para juntar-se a ele no penúltimo andar da livraria e expor as suas criações. Desde então é onde passou a estar das 15 até as 20 horas, fazendo tours guiados a contar sobre as histórias das suas peças em cinco línguas diferentes.

“Uma pessoa que não sonha é uma pessoa sem vida”. A vida passa, e Pietro, já com seus 81 anos, tem mais um sonho. Deseja que, quando não puder mais continuar a apresentar as suas peças, alguém possa continuar a “dar-lhes vida”.

 

De que forma a sua infância influenciou ser o inventor que é hoje?
Desde sempre tive essa paixão. Na fábrica que meu pai trabalhava, quando morávamos ainda em Itália, tinha uma carpintaria e, antigamente, todas as coisas de madeira eram trabalhadas com encaixes. Eu juntava essas madeirinhas todas e fazia casinhas, brincava com eles durante dias.

Eu sempre fui inventor. Lembro-me também de um episódio cómico dos carros de roda, aqueles carrinhos de caixote de sabão. Eu tinha feito um carro desses e claro, como íamos embora de Itália, onde vivi até os meus onze anos, não ia trazê-lo para Portugal. Então, no pátio que havia na fábrica, pus o carrinho para ser leiloado. Neste dia, minha mãe veio à janela do primeiro andar do edifício da fábrica, que era onde eu morava, e viu o pátio cheio de miúdos, estavam todos a ver o carro e a querer comprá-lo, então ela virou-se para mim e perguntou o que estava acontecendo, já podes imaginar o ralhete que apanhei.

 

A paixão pelos brinquedos e pela arte cinética começou como?
A minha vida profissional foi na indústria têxtil, mas eu não gostava de fios, gostava de máquinas.

Um dia fui passear para Marvão e visitar um castelo, só que, para chegar lá em cima, era uma estrada cheia de pedregulhos, de maneira que uma pessoa, para andar, tinha de olhar para o chão. Então quando estava a subir, vi caído um motor eléctrico pequenino, apanhei-o, sempre apanho o lixo todo. Quando cheguei a casa, liguei-o a uma pilha e começou a mexer-se. Comecei a fazer um movimento muito simples e foi evoluindo e chegou ao que tenho hoje.

Mas a verdadeira paixão pela arte cinética foi despertada, principalmente, por uma visita que fiz em Madrid, ao museu Reina Sofia, onde houve uma exposição de arte cinética. Ali vi as primeiras peças com movimento. Havia uma com expirais que rodavam e eu fiquei ali quase uma hora a tentar perceber como é que aquilo funcionava. Depois eu descobri e fiz uma máquina com várias expirais que agora está guardada.

 

Como nasceu a ideia de trabalhar com peças mecânicas recicladas?
Foi uma noção de economia, essa é a razão real. A razão oficial é que é preciso reciclar para prepararmos um mundo melhor para os nossos filhos.

Mas eu sempre gostei de apanhar lixo. Por exemplo, uma das atividades acessórias da arte cinética é a descoberta do lixo, então sempre que estou a andar na rua, estou a olhar para os contentores. Tenho aqui várias peças que encontrei nestes. Isto é dar vida a peças que já acabaram com a vida delas, dar uma nova vida.

 

O tempo é um tema sempre presente em suas peças. Porquê?
O tempo foi a primeira coisa que inspirou a criação das minhas peças, porque o tempo é tudo e não é nada, nem se quer tem o nome só para ele. Temos o tempo das horas e o tempo da chuva. Nas línguas Anglo-Saxônicas há duas coisas “time” e “weather”, mas, nas línguas latinas, a palavra tempo é usada para as duas coisas.

Quando nos deixamos de ser jovens, por exemplo, o tempo torna-se cada vez mais importante, porque quando se é novo o tempo nunca mais passa, mas quando chegamos a minha idade, os anos são meses, os meses são semanas, as semanas são dias e os dias são horas.

Ainda tenho aqui duas ou três máquinas sobre o tempo, mas eu tinha toda uma série de sete ou oito máquinas sobre tempo, não estão mais arrumadas porque não há espaço para expor.

 

Todas as suas peças têm uma história, quer destacar a que mais gosta?
Todas elas mexem comigo. E se pergunta se tenho uma peça preferida, minha resposta seria, quando tiver filhos e alguém lhe perguntar qual deles você prefere, o que você responderia?
As peças são meus filhos, não tem como escolher.

 

Essas histórias são criadas enquanto está a fazer as peças ou vem depois?
A confecção de uma peça normalmente passa por duas fases. A primeira é imaginar o movimento mecânico, quando o tenho feito, imagino uma história e a partir daí, a peça é subordinada a ela. Por outro lado, quando decidi fazer uma máquina do tempo, então é a partir disso que é construída.

 

Qual o significado da bicicleta voadora que tem na entrada da livraria?
Eu a criei em 2011. Onde estamos agora, antes tinha aqui uma exposição que foi feita para chocar, era sobre o lixo, toda está parte em que minhas obras estão agora expostas, estava cheia de lixo, era uma autêntica lixeira. Quando tiraram tudo esqueceram-se de tirar uma bicicleta que estava pendurada no andar de cima. Eu olhava para ela todos os dias, estava toda enferrujada, e pensei que tinha que fazer qualquer coisa. Puxei-a para baixo, pendurei-a, pintei de branco e arranjei umas asas para ela, depois chamei o José Pinho, o dono da Ler Devagar e perguntei se ele gostava e ele disse que sim, então perguntei se poderia colocá-la suspensa na frente da livraria. Mas a bicicleta ainda não tinha a menina. Continuei a olhar para ela e senti que faltava qualquer coisa. Fui ter com a minha esposa, que é escultora, porque de desenho, eu não desenho nada, e perguntei se ela poderia criar uma boneca para por em cima da bicicleta e mostrei o movimento que eu queria. E ela fez-me a boneca e ficou muito giro.
Depois de um tempo, as pessoas começaram a perguntar por que a bicicleta não ia para frente e para trás e eu dizia que as pessoas estavam malucas, aonde já se viu uma bicicleta andar para frente e para trás. Tive então a ideia de criar algo que pudesse fazer este movimento e logo pensei no monociclo. Surgiu então o Sonhador, também com boneco feito pela minha esposa.

 

Clarisse Verdade // Junho de 2019

Quando se lê Devagar, o tempo voa — por Rafaela Chambel

Quando se lê Devagar, o tempo voa — por Rafaela Chambel

O relógio marca as três da tarde. O sol de inverno está espelhado no Rio Tejo. Se Belém é a paragem do dia, a Ler Devagar faz parte do itinerário obrigatório. O silêncio que se esperava numa livraria é aqui apenas ruído de fundo. Entre leituras abreviadas, exposições de arte e conversas de café, qual será o nosso pior inimigo? O tempo dedicado ao maior amor ou a angústia de ele se esgotar?

Passa pouco da hora de almoço e as pessoas circulam à velocidade da hora de ponta. Enquanto uns conduzem para o trabalho, outros movimentam-se pelo lazer. Um letreiro iluminado acusa, por uma rua estreita, o acesso à Lx Factory. O som é partilhado pelos pássaros, pelo murmurinho do convívio e pelo saxofone do jazz que toca nas colunas. São espaços que carregam um passado industrial que remonta ao século XIX e hoje acolhem arte local e pequenos negócios, que se dão a conhecer a quem decide espreitar.

A hora do dia pouco importa, pois, quando o sol se põe, o ambiente íntimo é garantido por mantas e pequenas luzes decorativas. Quem por lá passa enche a memória das câmaras fotográficas entre as ruas grafitadas e sobrevoadas pela Ponte 25 de Abril, cenário já familiar nas redes sociais. Pode ser do cheiro a livro novo ou das estantes infinitas, mas são poucos os que passam na Ler Devagar sem se deixarem seduzir pela curiosidade.

“Também os brancos sabem dançar”, diz o cartaz que recebe as pessoas à porta. É publicidade, em amarelo vivo, da obra de Kalaf Epalanga. A decoração casa o velho com o moderno. Por cima das cabeças voa uma bicicleta de asas brancas, montada por uma menina. É o coração da livraria e tem nome: “Menina Sonhadora” – muito prazer. À entrada avistam-se duas mulheres que recebem as pessoas com um sorriso atarefado.

Alexandra Sousa trabalha na livraria há quatro anos. Sempre de olho atento nos clientes à sua volta, oferece um café e senta-se na única mesa vazia, para contar que faz de tudo: arruma os livros, atende ao balcão, serve cafés e organiza os eventos. Sim, eventos na livraria. Desde concertos a debates e até mesmo apresentações de livros. O espaço é grande e chega para todos.
Cada passo na livraria é uma viagem entre romances, aventuras e contos infantis. Os quatro andares do edifício acompanham as prateleiras de livros, as obras de arte e os assentos para quem prefere folhear uma obra ao sabor de uma bebida. As explosões de cores em papel, madeira e ferrugem são indícios de um complexo industrial que deu lugar à cultura. Qualquer livraria nasce da narrativa, mas aqui todos os objectos têm uma história por contar.

Menino Sonhador
Um lance de escadas de metal dá acesso ao terceiro andar, onde permanece montada a rotativa que outrora imprimira o Público, o Expresso e os bilhetes da lotaria. Foi nesta estrutura que Pietro Proserpio, escultor italiano, montou uma viagem pela sua imaginação. Quem visita dificilmente fica imune à magia deste lugar. Com o circuito já memorizado, o artista apresenta as suas peças aos turistas. Já as tem na ponta das suas quatro línguas – italiano, francês, português e espanhol. Se precisarem de outra, improvisa com facilidade.

Madeira, metal e plástico são alguns dos materiais que utiliza, todos eles reciclados. Enquanto não se ouvem passos nas escadas, encosta-se ao braço da rotativa para esclarecer que a construção das peças tem “um desporto anexo que é espreitar os caixotes do lixo”. Um dia partiu o chapéu de chuva no meio de um temporal. “Normalmente, quem parte, deita fora”, mas Pietro usou os ferros do chapéu para criar a Tarântula Josefina. Pendurada por um fio, recria os movimentos de uma aranha e dá um arrepio. Com uma garrafa de perfume da Hugo Boss, moldou a cabeça de Hugo, o Formigão. Do outro lado da bancada, mostra orgulho em apresentar um gira-discos feito de CD antigos que, quando rodam, fazem tocar “Asa tão leve”, de Amália Rodrigues. E é ao som da tradição portuguesa que continua o espetáculo.

Os holofotes viram-se para uma máquina de relógios antigos. “Preciso de um voluntário para soprar”, diz Pietro. Uma jovem de cabelo ruivo e olhos claros chega-se à frente. Sopra e, com uma cara de surpresa, vê os ponteiros girarem na direção contrária. Se para muitos é sinal de azar, para o escultor é uma sorte, pois permite viajar no tempo. Mas não se pode deixar voltar muito atrás, porque “não se brinca com coisas sérias!” Animadas por motores descartados de computadores e outros controles remotos, as esculturas propõem um jogo entre a mecânica do passado e a tecnologia do futuro.

No fim do percurso, tem bilhetes deixados pelos turistas. “Not sure if you’re crazy or a genius, but either way, keep going” (“Não sei se és maluco ou um génio, mas de qualquer das formas, continua”). Artigos escritos sobre Pietro, memórias da sua família e um sofá antigo são os elementos que fazem o seu “escritório”. À vista de todos estão pendurados poemas que o inspiram. H. Himaldo e José Luís Peixoto são alguns dos autores que dão nome à passagem do tempo, que o artista italiano contorna e desafia.

O relógio do presente conta quatro horas da tarde e são muitos os que já passaram, mas também os que virão. Todos os dias (menos ao Domingo à tarde) mostra o seu trabalho às pessoas. “Ao fim de semana é uma bicha que vem por aí acima”, desabafa, entre demonstrações. O som que mais o acompanha é o do “Menino Sonhador” e é com grande felicidade que revela a sua história. “As pessoas que olhavam para a bicicleta perguntavam porque é que ela não anda para a frente e para trás” ao qual Pietro respondia: “tu és maluco, já viste alguma bicicleta andar para a frente e para trás?”. Assim se inspirou para esta escultura. Um monociclo que, como o relógio, avança e recua nas asas do tempo.
5721 caracteres na peça principal

Duas décadas de leitura partilhada
Fundada em 1999 no Bairro Alto, a Ler Devagar celebra agora 20 anos. Tem mais de 50 mil títulos de livros e é considerada uma das 20 livrarias mais belas do mundo, ou das 10 mais belas se se considerarem as livrarias instaladas em edifícios recuperados.

A 23 de Abril de 2009 abriu portas na Lx Factory. Alexandra Sousa conta com orgulho que “as pessoas visitam mais pelo que o espaço tem a oferecer”. Não só porque mantém a estrutura original, o que lhe confere um cariz histórico, mas também porque “incentiva à leitura e as pessoas podem pegar num livro e ir ler para o café”.

Ana Margarida e Carolina Duarte, estudantes na Universidade de Lisboa, são caras familiares no espaço. Entre as leituras e o lanche, confessam recorrer à livraria para estudar e conviver. Nos eventos, as alunas apontam que se serve à mesa o debate e a boa disposição.
“O comércio melhorou muito nos últimos anos com as redes sociais e as notícias que se fizeram sobre a livraria”, como explica a funcionária, desde que saiu nos grandes jornais – dentro e fora do país. Ainda assim, os turistas parecem vê-lo pela lente da câmara. “Às vezes só vejo o pau da selfie a entrar e a sair, nunca chego a ver a pessoa”, reitera Alexandra, em tom de brincadeira.

Para os dois a três funcionários que lá trabalham por dia, “é muito difícil gerir”, desabafa. Para além das múltiplas tarefas, acrescenta que a mais difícil é “passar entre a multidão”. Ainda assim, afirma com convicção que a entrada paga não está nos planos.

Com vários projectos, de Lisboa a Óbidos, a Ler Devagar continua a investir na cultura da palavra. Duas décadas de trabalho são relembradas com nostalgia pelos que a mantêm a funcionar. Já com olhos postos no futuro da livraria, os funcionários partilham entusiasmo pelo que está para vir.
1833 caracteres na peça secundária
Galeria de fotografias

Rafaela Chambel // Maio de 2019

O mundo de Michel

O mundo de Michel

Os espaços não são espaços sem as pessoas que os habitam, sem os objectos que os configuram. A Ler Devagar é um espaço de infinitas possibilidades literárias, um lugar ávido de encontros que se produzem debaixo do olhar atento da famosa figura voadora que ocupa a sala principal da livraria.

Mas a Ler Devagar é muito mais do que isso. Aqueles que superam a emoção estética inicial e se aventuram a subir as escadas descobrem o mundo mágico de Michel.

Imaginemos por um momento o seguinte cenário: um jovem francês encontra-se na estação de comboios de Paris decidido a comprar um bilhete só de ida para qualquer lugar. A sorte quis que esse comboio parisiense o trouxesse a Lisboa, cidade que o conquistou para sempre.

Michel há quarenta anos que se sente em casa. Aprendeu a respirar a cidade e a encontrar inspiração para a sua arte na atmosfera lisboeta e na sua luz atlântica. Por vezes sente a nostalgia das suas origens mas foi em Portugal que conseguiu dar liberdade à sua expressão artística.

Aqui viveu anos de plenitude, de boémia e de sapateado (convertendo-se no maior expoente da cidade neste estilo de dança). Aqui, em Lisboa, conheceu José Pinho, sócio-fundador da Ler Devagar, e desde esse momento que o acompanha em todos os seus projectos profissionais.

Em 1999, a livraria ocupava as instalações da Litografia de Portugal e desde esses dias que Michel preenchia com o seu piano as tardes artísticas e literárias do Bairro Alto. Foram anos de descobertas pessoais, de deambular pelas ruas lisboetas e perder-se entre a multidão para se descobrir a si mesmo, para se formar como artista multidisciplinar e ecléctico, para transformar a livraria na sua casa.

Quando em 2009, a Ler Devagar abriu portas na LxFactory, sua localização actual, Michel, apaixonado pelos espaços industriais, encontrou de imediato uma esquina que tornasse sua.

Neste mundo mágico podem encontrar várias instalações que criam uma atmosfera nova todos os dias. O espaço muda com aquilo que inspira o artista cuja mente se move com a cidade, com as luzes e sombras, com o clima e com as suas gentes. Este canto da Ler Devagar é um reflexo desse movimento constante.

Michel não pode escolher uma arte que o represente, é por isso que se subirem ao penúltimo andar da livraria podem encontrar ilustrações, objectos que evocam outras épocas e que criam cenários teatrais e, sobretudo, ouvir a música do seu acordeão (instrumento que toca desde os onze anos) como banda sonora que nos recorda que aqui tudo é permitido e tudo é possível.

 

 

 

Óbidos Vila Literária na Antena 3

Óbidos Vila Literária na Antena 3
Em Óbidos nasceu uma Vila Literária. Diz José Pinho, um dos mentores deste projecto e nosso convidado hoje: «Este projecto da Vila Literária, que é uma iniciativa conjunta da Ler Devagar (LX Factory-Lisboa), da livraria Histórias com Bicho (Casais Brancos – Óbidos) e do Município de Óbidos, com o apoio dos editores e de outros livreiros , e é inspirado noutras cidades do livro que existem pela Europa, tem uma outra componente: a partir de 2014, vamos fazer festivais literários. Um grande festival anual, na Primavera, depois três festivais temáticos. É isso que nós queremos, porque Óbidos está muito ligada à cultura e à criatividade.»

 

Fonte: Entrevista na íntegra Antena 3

 

La villa medieval de Obidos quiere ser la mayor librería de Portugal

La villa medieval de Obidos quiere ser la mayor librería de Portugal

El pueblo medieval de Obidos, ya famoso por su festival del chocolate, quiere reconvertirse en Villa Literaria de Portugal con una iniciativa para albergar, en librerías temáticas, todos los títulos publicados por editoriales lusas.

La apertura, esta semana, de su primera Feria del Libro ha dado la señal de salida al proyecto que aspira a hacer de esta localidad amurallada, a unos 75 kilómetros al norte de Lisboa, “un destino internacional de la cultura”, como dice a Efe su alcalde, Telmo Faria.

La iglesia de Santiago, una de las joyas arquitectónicas de la localidad, alberga ya una librería generalista con capacidad para más de 40.000 textos que ha puesto el patrimonio de Obidos, fundado en el siglo XII y de poco más de 3.000 habitantes, “al servicio del libro”.

La idea, apadrinada por las autoridades y comerciantes de la villa, partió de Jose Pinho, dueño de una de las más populares librerías de Lisboa, “Ler Devagar” (Leer Despacio).

Además de la iglesia, levantada hace 827 años, la red de librerías que componen la base del proyecto la forman también otros espacios del pueblo que unen a sus actividades habituales la venta de libros temáticos.

Una galería ofrece títulos de arte y arquitectura; un espacio “gourmet” dedica parte de sus salas a textos sobre gastronomía y enología; y uno de los museos de la villa ofrece obras de arqueología, historia y patrimonio, mientras otro se centra en el mundo del cine, el teatro y las artes escénicas en general.

Seis de los espacios temáticos han sido inaugurados durante la Feria del Libro, y han recibido este fin de semana sus primeros visitantes.

Pero la Sociedad Vila Literaria, que gestiona el proyecto, quiere ir mucho más lejos y establecer, en total, una docena de locales a los que además se sumarán otros cedidos por el municipio y los comerciantes de Obidos, de forma que los libros y la literatura impregnen toda la ciudad.

La Sociedad y el Ayuntamiento se han marcado como objetivo que los espacios del libro repartidos por el pueblo alberguen, a finales de 2015, todos los títulos publicados por las editoriales portuguesas, señala Pinho, que en esta fase inicial del proyecto ha cambiado su residencia de Lisboa a Obidos.

La oferta editorial de la villa medieval reunirá no solo las publicaciones recientes de las editoriales lusas, sino ejemplares descatalogados, raros o de segunda mano, así como títulos en lenguas distintas al portugués, con vistas a los turistas extranjeros.

El Ayuntamiento confía en que no serán un obstáculo los costes del proyecto, cuya mayor partida hasta ahora -el acondicionamiento de la iglesia de Santiago valorado en 300.000 euros- ha sido financiado en un 85 % con fondos comunitarios europeos.

Para habilitar el resto de los espacios se prevén gastos mucho menores y el alcalde explica que “en el mercado, por ejemplo, se han construido estanterías con cajas viejas de fruta cedidas por los agricultores”.

Con la organización de varios festivales literarios a lo largo del año, Obidos quiere además destacarse de otros pueblos europeos con iniciativas culturales parecidas, como Hay-on-way en Gales o la vallisoletana y también medieval Urueña.

El más importante de esos certámenes comenzará dentro de diez meses, con carácter anual, y según Pinho planea traer a la localidad a autores de relevancia internacional, como los ganadores del premio Nobel de literatura.

El nuevo proyecto de Obidos vendrá a reforzar las actividades y ferias que ya organiza la villa, cuyas calles se abarrotan de miles de visitantes en la Navidad, durante los torneos y desfiles de ambientación medieval y en el Festival del Chocolate, que este año ha celebrado su undécima edición.

Situado en un promontorio poblado desde la prehistoria, Obidos albergó sucesivamente a celtíberos, romanos y árabes hasta que en 1.148 el primer rey de Portugal, Afonso Henriques, conquistó la localidad cuyas murallas son aún su principal símbolo.

 

Fonte: www.terra.cl

Inaugurada a I Feira do Livro da Óbidos Vila Literária

Inaugurada a I Feira do Livro da Óbidos Vila Literária

Inaugurada oficialmente ontem, dia 13 de Junho, a Vila Literária de Óbidos abriu ao público, a partir de hoje, das 10 às 22 horas, as livrarias Histórias com Bicho, nos Casais Brancos (infantil),  do CDI – Centro de Design de Interiores (Design e Moda), do Mercado (alfarrabista, viagens, turismo, gastronomia e vinhos e CD), da Galeria Nova Ogiva (artes e arquitetura), do Museu (história, património e arqueologia), do Museu Abílio (cinema, teatro e artes performativas) e a Grande Livraria de Santiago (generalista).

Durante a Feira do Livro (de 13 a 30 de Junho, de quinta a Domingo) estão abertas as livrarias da Adega – no EPIC (junto à Porta da Vila), da Praça (na Praça de Santa Maria) e a “Livraria Vão de Escada” e a “Galeria L”, com uma exposição de fotografia de José Manuel Rodrigues (no edifício dos Correios).

Fonte: Óbidos Diário

Tinta-da-china. 12 anos no Folio

Tinta-da-china. 12 anos no Folio

Sempre gostei do Folio. A ideia de passar uns dias fora de Lisboa, dentro das muralhas de um castelo medieval, com tantos recantos onde apetece só sentar e ficar quieta, agrada-me. Juntar a isto boa música, ver boas exposições, ouvir e conversar com autores, rever amigos que só encontro nestas ocasiões, beber copos, dançar e principalmente visitar, devagar, livrarias onde descubro livros que não via há anos ou nem sabia que existiam, faz o resto.

Há uns meses, aceitei o desafio da Celeste Afonso, do José Pinho e da Julita Santos para pensar numa casa tinta-da-china que abrisse no Folio, em Óbidos. Como fazer? Para além de trazermos todos os nossos livros, queríamos aproveitar a casa ao máximo, preparando uma programação consistente, que não nos envergonhasse, nem ao Folio.

Quando, na semana passada, inaugurámos a Casa Tinta-da-china, tínhamos montado uma livraria e uma pequena grande exposição, com curadoria de José Pacheco Pereira, sobre censura durante o Estado Novo.

Ao longo destes primeiros dias de Folio, falámos sobre a Revolução Russa, com José Pacheco Pereira e José Neves; sobre a revolução no audiovisual com Pedro Mexia e Filipe Melo; sobre a forma como, enquanto sociedade, estamos a tratar os nossos velhos, com Dulce Maria Cardoso e Fernanda Câncio e, também, de gastronomia algarvia e de antiprincesas. Vimos ainda Ricardo Araújo Pereira a apresentar  magistralmente António Prata, o melhor cronista brasileiro da sua geração que tenho a honra de publicar em Portugal.

No próximo fim-de-semana acaba o Folio, e com ele esta nossa nova experiência, que se tornou na comemoração dos 12 anos de idade da tinta-da-china.

Vamos terminar como começámos. Na sexta-feira, 26, estarei na nossa Casa, junto de Abel Barros Baptista e José Pacheco Pereira a falar de liberdade. Desta vez, de liberdade de expressão; sábado, Rui Tavares e Bernardo Pires de Lima vão debater a Europa actual e no domingo encerraremos falando de educação com Sérgio Niza, o mentor do Movimento Escola Moderna, Jorge Ramos do Ó e Joana Mortágua, sob o mote “Quem faz a escola?”.

Antes disso, no entanto, um dos momentos altos do Folio este ano será, sem dúvida, o encontro de dois fora de série: Ricardo Araújo Pereira e Gregorio Duvivier entrarão num bar e nós seremos os clientes.

O fim-de-semana vai ser rico por aqui. Dêem um salto a Óbidos e venham beber um copo connosco. É tudo de borla.

 

Bárbara Bulhosa

Editora Tinta-da-China

Aprender a rebeldia com os livros

Aprender a rebeldia com os livros

Aprender a rebeldia com os livros

Até domingo, em Óbidos encontros com escritores, lançamentos de livros, concertos e muita atividade nas livrarias. Para falar de revoluções.

“Alguém aqui gosta de ler?” Noemi Jaffe lança a pergunta e fica olhando em volta os braços que se levantam a medo. Meia dúzia de braços no ar. Mais dois ou três hesitantes. “Alguém está lendo algum livro agora?”, quer saber Noemi. Essa pergunta é ainda mais difícil. Risos nervosos. “Estou a ler um livro mas não me lembro do autor.” Há quem refira Os Maias, de Eça de Queiroz, leitura obrigatória na disciplina de Português. Uma rapariga está a ler um livro de Bukowski. “E está gostando?” “Sim, é o meu autor preferido.”
O grupo é composto por cerca de 20 alunos do 10.º e do 11.º ano, vindos de uma escola no Laranjeiro (Almada). Metade é da turma de Turismo, a outra metade do curso de Fotografia. Vieram a Óbidos, acompanhados pelas professoras, de propósito por causa do festival literário Folio, com hora marcada para um workshop com a escritora brasileira Noemi Jaffe com o tema “Literatura, a língua revoltada”. Às três tarde, na Livraria da Adega.
A escritora, que está em Portugal a lançar o seu mais recente livro, O que os cegos estão sonhando?, também é professora e sabe bem como é difícil conquistar os jovens destas idades para a literatura. “Qual a diferença entre a nossa conversa quotidiana e a escrita literária”, pergunta-lhes. Se a conversa tem como objetivo a comunicação e, para isso, tem de seguir determinadas regras, a literatura tem como único objetivo o prazer. “O escritor escreve porque gosta de escrever, o leitor lê porque gosta de ler. Como não tem qualquer utilidade nem qualquer objetivo, o escritor pode escrever sobre o que quiser e como quiser, não tem de seguir quaisquer regras.” Noemi Jaffe fala-lhes de escritores que subvertem as regras como Guimarães Rosa, Mia Couto, José Saramago, Valter Hugo Mãe. Na verdade, conclui, “a literatura é um ato de rebeldia contra a obediência que praticamos todos os dias”. “Revoluções, revoltas e rebeldias” – esse é o tema da terceira edição do Folio. E Noemi Jaffe faz um jogo com os jovens, desafiando-os a escrever dez palavras que têm que ver com liberdade e a depois construir um texto sobre a revolta.

Para José Pinho a rebeldia pode ser tentar transformar uma vila turística numa vila literária. O homem que fundou a livraria Ler Devagar (agora na LxFactory) e que entretanto abriu nove livrarias em Óbidos e ainda assegurou a sobrevivência da Férin (no Chiado) foi também o criador do festival Folio e, apesar de este ano ter sofrido um revés no seu orçamento, não tem intenções de desistir. “Em 2015, a Unesco declarou Óbidos como Cidade Literária e isso dá-nos responsabilidade e impõe-nos objetivos”, diz. Está já a pensar na próxima edição do Folio e na segunda edição do Latitudes, o festival de literatura de viagem, e tem planos para em 2018 pôr de pé mais um festival, agora dedicado à poesia.

 

“Em 2015, a Unesco declarou Óbidos como Cidade Literária e isso dá-nos responsabilidade e impõe-nos objetivos”

“Um jornal chamou-lhe o Astérix dos livros, porque resiste como alma solitária ao avanço dos grandes grupos editoriais. É assim que se vê?”, pergunta-lha a jornalista Maria João Costa, da Rádio Renascença, no programa Obra Aberta, gravado ontem, ao vivo, na Casa da Música, em Óbidos. José Pinho está à vontade com essa imagem de resistente. “O negócio dos livros não é um grande negócio, mas mesmo não sendo rentável pode servir para outras finalidades”, explica. “Para todos nós que nos metemos nisto, os livros são um vício. E os vícios são caros. Isto para mim é um ócio. Enquanto não for um pesadelo…”
Quando sai da gravação do programa, José Pinho passeia por Óbidos, com o seu saco de pano branco ao ombro, confundindo-se com os turistas que bebem ginjinhas em copos de chocolate e compram artesanato de cortiça. É difícil circular na rua principal da vila por entre uma multidão que fala em várias línguas e sotaques. São poucos os que reparam nas placas amarelas do Folio que apontam o caminho para as várias livrarias e outros espaços de atividades. José Pinho passa pela Casa da Criação – onde o escritor Mário Zambujal fala da revolução tecnológica que, “não sendo política, tem efeitos políticos e em todos os aspetos da nossa vida” – e acaba por sentar-se na plateia da Livraria Santiago, instalada numa antiga igreja, para ouvir Hugo Maia, que traduziu As Mil e Uma Noites do árabe para português, explicar como ao procurar o manuscrito mais antigo se percebe que este livro é, afinal, muito diferente da versão adocicada e ocidentalizada que nos tem sido vendida.
“Esta obra não foi produzida pelas elites, pelo contrário, é uma crítica evidente ao açambarcamento da riqueza por essa elite e também uma forma de resistência aos déspotas que oprimem os mais fracos”, diz o tradutor. “Há um espírito de resistência popular em As Mil e Uma Noites.” Ou como disse Noemi Jaffe aos jovens alunos da Margem Sul: “Na literatura não temos de nos adequar às regras nem temer que os outros nos julguem loucos. Toda a arte é uma expressão da liberdade.” E é aí, nos livros ou pelos livros, que, tantas vezes, nascem as revoluções.

PUBLICAÇÃO ORIGINAL AQUI

World Literature Today: Ler Devagar

World Literature Today: Ler Devagar

Lisbon is a city with no shortage of literary monuments. Look at downtown Chiado, where Livraria Bertrand continues its 285-year-old bookselling business uninterrupted, a meek world record. Along this same street, fanned out in a subtle triangle, Portugal’s greatest poets are frozen midjest or midparagraph in larger-than-life bronzes—Fernando Pessoa’s figure now permanently occupying his usual table outside Café A Brasileira, where the city’s writers once congregated to smoke and write and take their coffee. It is almost (almost) as though time has not passed at all. But the writers no longer take their coffee there.

 

Standing out amid all these pieces of history is Ler Devagar, a nascent palace of book culture more interested in restoration than preservation. After a brief stint in Lisbon proper, the bookstore relocated to the city’s fringe, opting to take up residence in the ex-industrial premises of Alcântara’s rapidly revitalized LX Factory (pronounced “el sheesh”). Now a hub of precocious restaurants, boutiques, art, and design, the area seems a perfect fit for Ler Devagar’s own ethos: not a site of Lisbon’s literary history but a sign of its literary future.

Ler Devagar“Read slowly.” That’s the literal translation of this three-story bibliophile’s dream and the persistent invitation of the shop’s open space. The optics are, in a word, stunning. Books line the aisles on the first floor and climb up every spare inch of wall on all three. To one side a massive outmoded printing press sits like a column, providing a tucked-away space for a coffee and wine bar (one of two in the store, with a cake shop to boot) and an anchor-point for the signature airborne sculptures strung across the shop: fanciful cyclist silhouettes lending an air of magic to the catwalks and stacked platforms. This is a place you can explore for hours on end even before you get to the books, an inexhaustible collection of new and secondhand titles with their own worlds to offer in a number of tongues.

It’s also a place where people can meet, mix, and collaborate. Ler Devagar is evidently designed with conversation in mind: everywhere tables are distributed plentifully, in unfussy clusters fit for lively groups and small, neat rows for quiet couples. Rotating exhibitions and regular readings, performances, and workshops push Ler Devagar from a bookstore to a dedicated community arts space. A small, still-functioning press rests on the uppermost platform amid an exhibition- and work-space for local artists; on one occasion, at least, it has spit out the warm, inked sheets of one of Lisbon’s award-winning independent newspapers. Sectioned off from the rest of the shop is the auditorium, Ouvir Devagar (“listen slowly”), comprising a stage and a couple dozen chairs that, if the online events calendar is any indication, receive ample use these days.

Ler Devagar has been counted among the world’s most beautiful bookstores for a few years now, but its larger project of restoration in Lisbon and around the country has also made it one of Portugal’s most valuable cultural projects. Just one example: in 2013 Ler Devagar proposed a project to restore eight different disused spaces in the historical castle-town of Óbidos, turning them into book-minded shops and spaces like the Literary Man, a library-style hotel decked with over forty thousand titles.

Two years later Óbidos became one of UNESCO’s twenty “Cities of Literature,” officially making history rather than preserving it. Along the way, Ler Devagar has made something else that may be just as important: an ample number of places for writers to take their coffee.

By Grant Schatzman. Writer and editor in Norman, Oklahoma, and a student of English literature and letters at the University of Oklahoma.

Full Article: World Literature Today, November 2017