
Os espaços não são espaços sem as pessoas que os habitam, sem os objectos que os configuram. A Ler Devagar é um espaço de infinitas possibilidades literárias, um lugar ávido de encontros que se produzem debaixo do olhar atento da famosa figura voadora que ocupa a sala principal da livraria.
Mas a Ler Devagar é muito mais do que isso. Aqueles que superam a emoção estética inicial e se aventuram a subir as escadas descobrem o mundo mágico de Michel.
Imaginemos por um momento o seguinte cenário: um jovem francês encontra-se na estação de comboios de Paris decidido a comprar um bilhete só de ida para qualquer lugar. A sorte quis que esse comboio parisiense o trouxesse a Lisboa, cidade que o conquistou para sempre.
Michel há quarenta anos que se sente em casa. Aprendeu a respirar a cidade e a encontrar inspiração para a sua arte na atmosfera lisboeta e na sua luz atlântica. Por vezes sente a nostalgia das suas origens mas foi em Portugal que conseguiu dar liberdade à sua expressão artística.
Aqui viveu anos de plenitude, de boémia e de sapateado (convertendo-se no maior expoente da cidade neste estilo de dança). Aqui, em Lisboa, conheceu José Pinho, sócio-fundador da Ler Devagar, e desde esse momento que o acompanha em todos os seus projectos profissionais.
Em 1999, a livraria ocupava as instalações da Litografia de Portugal e desde esses dias que Michel preenchia com o seu piano as tardes artísticas e literárias do Bairro Alto. Foram anos de descobertas pessoais, de deambular pelas ruas lisboetas e perder-se entre a multidão para se descobrir a si mesmo, para se formar como artista multidisciplinar e ecléctico, para transformar a livraria na sua casa.
Quando em 2009, a Ler Devagar abriu portas na LxFactory, sua localização actual, Michel, apaixonado pelos espaços industriais, encontrou de imediato uma esquina que tornasse sua.
Neste mundo mágico podem encontrar várias instalações que criam uma atmosfera nova todos os dias. O espaço muda com aquilo que inspira o artista cuja mente se move com a cidade, com as luzes e sombras, com o clima e com as suas gentes. Este canto da Ler Devagar é um reflexo desse movimento constante.
Michel não pode escolher uma arte que o represente, é por isso que se subirem ao penúltimo andar da livraria podem encontrar ilustrações, objectos que evocam outras épocas e que criam cenários teatrais e, sobretudo, ouvir a música do seu acordeão (instrumento que toca desde os onze anos) como banda sonora que nos recorda que aqui tudo é permitido e tudo é possível.